Linhas soltas, asas rasgadas

Freedom is just chaos with better lighting.

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Local: São Paulo, SP, Brazil

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Minha versão

Em algum lugar daquele labirinto
pai e filho se procuram
Ele fala sobre um verso que o tortura
desde o ano passado
No espaço entre eles
uma educação calculada
O meu quarto
é perfumado
pelas flores da rua
Pai e filho andam pela calçada
Um diz que acredita em recomeços
e o outro
chora
No meu quarto
cabe apenas a minha liberdade
Ela não tem medo
daquele verso
Ninguém mora
em grandes quartos de hotéis
a beira de precipícios
Ele aponta
para uma criança
inocente
Pai e filho
hesitantes
pensam um no outro

terça-feira, dezembro 27, 2005

Breve intervalo

Aqui cabem três dedos
E cinco linhas
De prosa poética
Despoetizada
Aqui jazem dois minutos

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Garden State

Andrew Largeman: You know that point in your life when you realize that the house that you grew up in isn't really your home anymore? All of the sudden even though you have some place where you can put your stuff that idea of home is gone (...) You'll see when you move out it just sort of happens one day and it's just gone. And you can never get it back. It's like you get homesick for a place that doesn't exist. I mean it's like this rite of passage, you know. You won't have this feeling again until you create a new idea of home for yourself, you know, for you kids, for the family you start, it's like a cycle or something. I miss the idea of it. Maybe that's all family really is. A group of people who miss the same imaginary place.

domingo, dezembro 18, 2005

Ângulo aberto

A estética das coisas por dizer
Como um cúmulo da inutilidade
Demonstrando incompetência
Sem grandes pretensões
Todos rostos tão ávidos
Devorando poder e pó
Eu só quero uma flor na janela
E um céu pra contemplar, se falta amor

sábado, dezembro 17, 2005

Culpados

Não fui desculpada
Você faz questão de entender
Meu pedido de desculpas
Como nada mais do que
A desculpa suprema
Não nos entendemos
E é assim que tem que ser
Competição sem vencedores
Desculpe-me, mas acho que não...
Não estou em condições de me martirizar hoje.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Portas fechadas

Desconforto
É minha pele
Que se volta
Contra mim
Um avião passa
Metálico
Carros fogem
Para casa
Encerrando
O expediente
Logo a noite
Vem tropeçando
No verbo cair
Sendo engolida
Por todos os loucos
Que não crêem mais
Em contos de fadas

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Meio a meio

Uma parte de mim
Quer sono e chuvisco
Olhar para a tarde
Que aos poucos acaba
Quer casa no campo
Amor do passado
Noites assim
Puras de tudo
E lençóis brancos
Sem nada mais
A outra parte
Quer correr
Ser um sonho
Com estranhos
Estremecer
Enquanto voa
E se entorpece
De luz nas veias
As partes existem
Indistintas
Coexistem
Quase em paz
Só perturbada
Por sensações
Inacabadas
Daqueles momentos
Que nunca houveram

sábado, dezembro 10, 2005

Mudança de planos

Pediram para eu viajar na semana que vem...
What am I? A doll? A puppet? Yes, I guess.
Well, hoje acho que acabo meu filme. Talvez não.
Preciso me organizar, porque preciso me mudar...
Eu deveria criar um jeito de agradar a mim mesma.
E além disso, há pessoas esperando por respostas minhas.

domingo, dezembro 04, 2005

Pequena discussão sem propósito

- Já decidiu o que vai fazer hoje?
- Nada. Na verdade, estou cansada.
- Do quê? Eu é que fiquei trabalhando ontem até de madrugada!
- Dormi demais. Tive pesadelos.
- Ah... Pesadelos. Isso explica tudo.
- Quase tudo, na verdade... Tive sonhos também.
- Falei com aquela sua amiga hoje. Ela é extremamente rude.
- Pra você, qualquer palavra menos doce é deselegante.
- O mundo seria um lugar melhor se todos se tratassem cordialmente, minha querida.
- O mundo seria um lugar melhor se todos tivessem o que comer.
- Seu ativismo me encanta!
- Sua alienação me cansa... Mas e aí, o que ela disse?
- Ela quem?
- Você sabe quem, não se faça de desentendido.
- Não estou entendendo essa agressividade toda, ma cherrie.
- Eu quero o divórcio.
- Ótimo. Assine aqui.
- Seu senso de humor me impressiona a cada dia...
- Sua ironia um dia ainda me mata, querida.
- Só suma da minha frente, ok?
- Ok. Vamos?
- Não. Você mesmo disse que minha amiga é uma troglodita.
- Quer dizer então que esse vestido de baile é apenas pra relaxar em casa, junto à lareira?
- Não temos lareira. Mas sim, eu só quis ver como ficava no corpo.
- Bom, fica magnífico no corpo. Vamos?
- Não precisa me bajular só porque você quer comer alguma das minhas amigas loiras e burras.
- Não me ofenda só porque a culpa é sua que a nossa vida sexual não anda às mil maravilhas.
- A culpa é minha? Nunca ouvi disparate maior!
- Eu penso nisso 25 horas por dia!!! Agora vamos?
- Pensar não é sinônimo de fazer...
- O que mais você quer que eu faça?
- Deixa pra lá. Vamos ou não?

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Derretendo

Café da manhã acompanhada. Uma reunião com gente importante. Vários aniversários de quem ainda gosto, mas por quem eu não deveria mais me importar tanto. Datas, são só datas. Whatever. Qualquer coisa pra fugir deste calor dos infernos...
Mas é um lindo dia de sol, after all. Apesar de tudo, há brilho. E por alguns momentos cadenciados eu me lembro de como se sorri. Além disso encontrei meu pai hoje... Se ele continuar perdendo peso dessa forma, acho que posso começar a me preocupar. Às vezes me impressiono com o cansaço cada vez mais presente nos seus olhos puros de fim de tarde. Daquela cor mágica que se vê na terra quando a noite está quase caindo, plácida. E seguimos os dois, tão parecidos. Tão diferentes em nossas semelhanças.
Minha irmã me escreveu uma carta. Conversei com um estranho que me trouxe arte aos olhos e ouvidos. Estava realmente precisando de um pouco de branco... Paguei as contas e caminhei a passos rápidos, difíceis, através de uma paisagem que parecia me segurar com uma redoma estranha e morna de vento zombeteiro. O zumbido da avenida incomodava, mas acabou que era só um cisco no meu olho. A tarde começou cedo.
Os anos passam e nada nos faz aprender a entender a verdadeira natureza das coisas. Não somos mais que escravos de um par de ponteiros inconstantes. Fadados a gozar nas nossas curtas eternidades a doçura aguda dos sentimentos que escorrem vida abaixo.


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