Linhas soltas, asas rasgadas

Freedom is just chaos with better lighting.

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domingo, novembro 27, 2005

Teias

Minhas costas doem. Espero.
Hurry up and wait. Quem falou isso sobre minha profissão realmente sabia o que estava falando.
Agora essas aranhas que não param de tecer o sono nos meus olhos, costurando minhas pobres pálpebras cansadas de várias madrugadas insones. Tudo isso pra eu aprender a deixar de ser uma boa samaritana...
Estava lendo outras coisas, de outras pessoas. De modo que resolvi mudar meu estilo, ser mais cool e falar de assuntos diferentes. Por isso agora está certo: vou partir e misturar um monte de nonsense nesta sopa de letrinhas metade bizarra, metade passatempo despretensioso, e kind of auto-flagelação na agonia de querer fazer coisas estando um caco.
Estava pensando em quanta porcaria a gente absorve todo dia. E depois, quanta informação legal. E quanta merda, puta que pariu... Ou que seja, quanta cultura inútil. Mas não importa, na verdade. Os alienígenas vão invadir a terra. É o fim do mundo. Já pensou tudo acabar num clarão e não ter tempo nem de deitar na relva uma última vez, pra sentir o vento?
E no entanto, nem precisa de um apocalipse pra acontecer isso. De você não ter tempo. Todas as conexões caindo no mesmo instante em uma trama emocionante que no fim não tem sentido, mas mesmo assim te faz ir ao cinema e comprar a pipoca superfaturada só pra dar a mão para alguém que vai te esquecer depois que... bem, depois de muito suor (literalmente) você der uma outra coisa... Ok, vamos mudar de assunto.
Aí eu parei pra ler um texto simplesmente genial de, claro, Saramago. Não podia deixar de ser. Como um caminho ao infinito. Labirinto de palavras. Absolutamente, absurdamente genial. Vi umas figurinhas hojes que ilustram perfeitamente a simplicidade de coisas pequenas. Ou a aparente simplicidade. Queria ser mais simples. Mas o peso desses arquivos não me permite. A rede é uma extensão de pensamentos verdadeiramente formidáveis.
Por fim, fascinante amontoado de nadas que nem sequer se propoem a serem existenciais, chego a uma lembrança de minha mãe indo a uma festa ou algo assim, com meu pai junto. Antes de dormir ela sempre ajoelhava ao lado das nossas caminhas pra rezar em voz alta. Hoje, nem dormir eu me permito. Veja só como estamos progredindo aqui... Um pouco (um muito?) de cafeína na veia e até o silêncio da rua deserta deixa deixa de ser hipnótico.
Agora, a história que aconteceu enquanto eu escrevia é que passei meus olhos por um monte de pontinhos luminosos de várias cores que eu já nem conseguia distinguir, depois fiquei pensando com meus zíperes na falta que faz uma lareira por aqui. Um chocolate quente também não seria má idéia. Li a crítica de um filme crítico. Um último copinho de café de plástico (o copo e o gosto) para ver se o sol voltava a brilhar... É, não teve jeito. Devia ser só que a cadeira era muito dura, o designer responsável devia ser morto na fogueira e o peso na consciência no fim das contas seria um farrapo de tecido que restou de algum pesadelo meu.
Esperei até cansar. Finalmente, decidi encarar o frio da rua noturna para voltar pra casa e me enfiar embaixo das cobertas. Então, quando tudo parecia resolvido, as pessoas que eu esperava chegam e a gravação começa, enquanto meus planos e sonhos fofinhos vão se esvaindo como nuvens esfiapadas num céu de verão às sete horas da manhã.
Inspiração é uma coisa muito foda.

quarta-feira, novembro 23, 2005

See?

this is
what I fear
when you say
let's just jump
how do you deal
with all the pain
the anger, hell
and discontempt
you understand
disgrace, disdain
and yet you don't
I never meant to
make you fall
love is a mess
hate is for blessed
now keep on looking
for the white things
meet my bare face
crushing waves
in disbelief
like an
involuntary
suspension
of hope
in words

domingo, novembro 13, 2005

Algumas palavras soltas

O quarto dentro do quarto
Um olhar de não olhando
Miller e as incongruências
Percorrendo estantes de livros
Questionamento inocente
Respiração entrecortada
Várias faces se revelam
Coração partido ao meio
É sempre melhor de fora
Intelectuais devaneios
Passam as luzes dos carros
E aflora um jardim de guerra
Imerso em pureza latente.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Sofá vermelho

Frio na espinha
Pessoas discutem
Meus íntimos segredos
Como quem conta anedotas
Medos que viraram planos
Moedas que valem nada
Minha vida editada
Corto só para o clímax
Coisas que não tenho dito
A garganta, dói-me rouca
Bebo este líquido amargo
Vou tocando o chão com as mãos
Chamas geladas de sono intenso
Meu poder sobre o andar alheio
Nos confins dessa outra cidade
Movem-se carros, lembrando
Quisera cabelos coloridos
Com videiras perfumadas
Mas alguém me interrompe
E meus desejos se explodem

quarta-feira, novembro 09, 2005

Parei de escrever

Contei as grades lá fora
Afastei um farelo de algo
Olhei as horas de novo
Pela décima vez, eu acho
Balancei o pé cruzando a perna
Engoli com dificuldade
Mais um copo de café
Senti duas novas pontadas
Martelando a minha cabeça
Deu-se outro telefonema
Sobre a droga de aluguel
Mas então tive que rir
Do absurdo da situação
Esperei por nada especial
Rejeitei quem ousou me falar
Levantando, cerrei a porta
Ao noturno vento outonal
Levei minhas mãos aos olhos
Num piscar de inconsciência
Vi-me em vastos campos sem fim
Colhendo jasmins à luz da lua

segunda-feira, novembro 07, 2005

Monólogo interior

Este é o inferno
Sente o calor?
Mude seu gosto
Para homens
Peça menos
Ceda mais
Vento frio
Lábios tremendo
Chão molhado
Vidro trincado
Sabor de noite
Na boca seca
Suas pupilas
Dilatadas
Nosso andar
Fugidio
Oh meu Deus
Quanta náusea
A peste, e enfim
A queda, brusca
A falta fria
Do que tocar
Os gritos, muitos
E silenciosos
Clima estranho
Luz laranja
Não definindo
Meu contorno
Sim, o inferno
Perto do céu.

sábado, novembro 05, 2005

Ufanismo bipolar

Coração multilateral
Medo de molhar os pés
Na volta pra casa
Disseram-me há pouco
Que o ângulo baixo
É ideal pra linguagem
E substitui, em teoria
Miradas no estômago
Artisticamente inúteis
Ouvi dizer, inclusive
Que já não se sonha mais
Com meu véu de pranto ilusório
De frágeis fios sustentando
Mais um perigo inflamável
Três pernas fúteis, cruzadas
Calafrio psicológico
Assobio premeditório
É hoje que a lua se esvai
Eu aqui, jogo frases casuais
Num lago sem movimento
De planos infundados

terça-feira, novembro 01, 2005

Sorriso Cítrico

O céu vai desabar
Temporal dos temporais
Outro ônibus vermelho
Há de passar em dois minutos
Muro pichado timidamente
No lado oposto da rua
Permanece em seu silêncio
De mil pedras anciãs
Essa brisa sufocante
Meia-tarde, meia-noite
Não vem mesmo muito ao caso
Mas obriga-me a, sincera
Desvendar vendavais esparsos
De quem era aquele verso?
Qual foi o que me ganhou?
Meus passos deixam rastros
Daquilo que foi se perdendo
Minhas pétalas ressequidas
Por excesso de água e danos
Pendem do vaso de vidro
Aceitando sua derrota


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