Linhas soltas, asas rasgadas

Freedom is just chaos with better lighting.

Minha foto
Nome:
Local: São Paulo, SP, Brazil

segunda-feira, setembro 26, 2005

Holofotes

Eu fico sem saber
o que dizer
Você fica sem dizer
e pára o ponteiro
Pra não perder o instante
desconstrangedor
de estar ao lado
seu, sob a luz
Encontros frequentes
após vários meses
de redes e linhas
desconectadas
Pessoas sobrando
insegura, seguro
a respiração
Sua vida, um ímã
dois polos opostos
mas reina o acaso
o utópico, reina
Camiseta preta
e a estampa esquisita
que salvou-me a noite
quando música apenas
já não mais bastava
O que ouço agora
mais que acordes
são roucos suspiros
No meu olhar
cabe um pouquinho
de tudo contido
em cinco minutos
de intervalo
Passo a sorrir
pássaro sondando
a passagem de som

quarta-feira, setembro 21, 2005

Segunda-feira

Um par de olhos sensíveis
Eu penso em timidez
Vou colhendo dúvida
Banhada em receio
E as pessoas todas teimam
Em confessar publicamente
Aventuras sexuais
Ou gafes afins
Saudades das noites
De antigos telhados
Vontades estranhas
De tantas coisas
Ao mesmo tempo
Não entendo muito
Do que me dizem
A lua recita
Dois pares de sonhos
E valem mais
Que um poema
Do Pessoa

domingo, setembro 11, 2005

Quote


"Venham até a borda, ele disse.
Nós temos medo, eles disseram.
Venham até a borda, ele insistiu.
Eles foram.
Ele os empurrou...
E eles voaram."
(Guillaume Apollinaire)

quinta-feira, setembro 08, 2005

Voltando ao conto...

O Blefe

Quatro homens sentados em volta de uma mesa de jogo. O bar é um lugar com pouca luz, algumas mesas e ninguém além dos quatro jogadores. O Valete, um homem alto e bem arrumado, dá as cartas. Ao seu lado esquerdo está o Ás, um jovem de óculos aro fino e roupas meio amarrotadas. Ao lado esquerdo deste, o Rei, um cara grande e careca, com uma tatuagem de cartas de baralho no braço e um relógio falsificado no pulso. Do lado esquerdo dele encontra-se o Quatro, um rapaz de vinte e tantos anos e aparência nem um pouco extraordinária. Os quatro homens falam em voz alta e dão risada durante o jogo de cartas, comportando-se como verdadeiros profissionais do ramo. Junto ao balcão, um Barman encorpado e uma bela Garçonete observam a cena.
- Começa assim... Não, sério. Começa com o grande triunfo do Valete de Copas – diz o Valete, levantando a voz a ponto de superar os demais.
- Cala a boca, Valete – o Rei resmunga.
- Não, escuta... A história começou comigo, porra! – continua o petulante Valete, chamando a Garçonete com um gesto. Ela se aproxima, trazendo uma bandeja de bebidas.
O Rei esvazia seu copo, com um grunhido.
- Se um cara não pode contar vantagem, que é que sobra nessa merda? – continua o Valete.
- Deixa ele, Rei... – o Ás interfere.
O Valete joga na mesa um Valete de Copas, rindo.
Em uma rua ensolarada e movimentada, o Valete saía de uma joalheria. Ele sorria, triunfante pelo roubo recém executado. E bem sucedido. Assim caminhava pela rua, carregando uma sacolinha com o emblema da loja. Acabava de deixar a mencionada joalheria com um relógio falsificado na sacola, um anel de cem milhões no bolso e um puta sorriso no rosto.
Ainda no interior do bar, os quatro homens jogam cartas. A Garçonete se aproxima novamente, trazendo mais bebidas, e o Quatro presta atenção nela por alguns instantes. O Rei olha para o Valete com ar de desprezo, enquanto o Ás concentra-se em suas cartas.
- Coisa de mestre. Sem vestígios – gaba-se o Valete, ao que o Quatro mal disfarça um sorriso discreto, olhando para ele.
Naquela iluminada manhã, o Valete dobrava a esquina de uma rua, assobiando. Nisso, teve que parar e se abaixar pra amarrar o sapato. Antes que ele pudesse sequer entender o que estava acontecendo, uma arma encontrava-se apontada para sua cabeça, e o Rei era a pessoa que a engatilhava.
Sentado na cadeira do bar, morto com a marca de um tiro na testa e a cabeça tombada para trás, o Valete é eliminado do jogo. É quando o Barman aparece e arrasta o corpo inerte para fora. O Rei ri estrondosamente enquanto o cadáver é arrastado e joga um Rei de Ouro sobre as outras cartas, na mesa.
- Odeio gente desse naipe.
Outro que observa atentamente enquanto o Barman leva embora o corpo do Valete é o Quatro. Nesse meio tempo, o Ás pega uma carta do monte. Ele comenta, em voz baixa:
- Você nunca sabe com que tipo de gente tá jogando.
O Rei mantém seu sorrisinho vitorioso no rosto e se espreguiça jogando os braços para trás.
Manhã de sol e o Rei guardou sua arma, tirando o tal relógio falsificado de dentro da sacolinha que pertencia ao Valete eliminado e o colocando no pulso, com indisfarçada satisfação. Por fim, o Rei tirou uma caixinha preta do bolso do casaco do Valete e a abriu. Havia um anel de brilhantes dentro dela.
Foi quando um Policial o abordou bruscamente, empurrando-o contra um muro, depois o algemando. Pego de surpresa, o Rei deixou cair no chão a caixinha. Só então se deu conta da presença do Ás com um livro nas mãos, de dentro do qual ele tirou algum dinheiro e o colocou no bolso do Policial, abaixando-se em seguida para pegar a caixinha preta do chão e afastando-se dali rapidamente. Vendo o Ás caminhar para longe, o Policial deu um último e forte chute no estômago do Rei algemado, que o levou ao chão.
Com as mãos nas costas, algemadas, e alguns hematomas no rosto, o Rei olha para os dois outros parceiros de jogo, visivelmente confuso. O Ás larga sobre a mesa um Ás de Espadas.
- Quem é o Ás aqui, hã? – ele provoca, contemplando o impotente Rei. – Otário...
Um simples gesto de cabeça do Ás e o Barman se aproxima da mesa, pegando o Rei pelo colarinho da camisa e o arrastando para fora do bar. Com a rivalidade crescendo, palpável, entre eles, Ás e Quatro se encaram. O primeiro a desviar os olhos para suas cartas é o Quatro.
- Eu só quero comida, diversão e uma menina bonita pra ficar velhinha do meu lado. Na paz. - olhando para a Garçonete, ele suspira. Embora devolva o olhar com um sorriso, ela não se aproxima da mesa deles.
O Ás analisa o Quatro por alguns momentos, desconfiado, para logo voltar a se concentrar nas suas cartas.
Estava o Ás sentado no banco de uma praça vazia, sob o solzinho matinal, bebendo um café e lendo o livro que segurava quando o Rei fora preso. Um largo sorriso estampado no rosto. Certamente não supunha que o Quatro apareceria sorrateiro às suas costas e, tirando um punhal do bolso, rapidamente passaria a lâmina afiada pelo seu pescoço. Logo o Quatro apossava-se da almejada caixinha preta e afastava-se dali, enquanto o Ás caía para a frente, executado.
Cai morto o Ás sobre a mesa, com a cabeça em meio às cartas e apostas. Uma poça de sangue se forma, lentamente, junto ao seu pescoço.
- Longe de mim subestimar você... – murmura o Quatro, levantando-se da mesa, abrindo sua mochila e apressadamente colocando dentro dela todo o dinheiro que ali se encontra, para enfim dirigir-se ao balcão do bar, atrás do qual a Garçonete e o Barman estão parados, em pé. Fica sobre a mesa vazia um Quatro de Paus.
O Quatro senta-se em um dos banquinhos junto ao bar, a Garçonete lhe serve uma bebida. Ele a olha, enlevado, e sorri timidamente. Ela sorri de volta, calada. O Barman não faz nada além de assistir a troca de olhares, parado ao lado da Garçonete. Para ganhar coragem, o Quatro bebe vários goles consecutivos de sua bebida.
- Eu sei que eu sou uma carta pequena do baralho, ainda mais pra uma Dama como você, mas eu... – começa ele.
- Sabe o que dizem sobre sorte no jogo... – ela diz, mantendo o sorriso.
O Quatro fita a Garçonete, confuso. Então ele olha para seu copo de bebida quase vazio e cai envenenado no chão. Ela não se move. Apenas o observa, ainda sorrindo.
- Que bom que você sabe.
Com um olhar da Garçonete para o silencioso Barman, ele pega o Quatro pelos braços e afasta-se dali, arrastando o corpo para fora.
Finalmente só, a Garçonete serve uma bebida para si mesma. Um lindo anel brilha em um dos dedos da mão com que ela segura seu copo. Sua outra mão repousa suave sobre as quatro Damas do baralho.

terça-feira, setembro 06, 2005

Guarda-chuva

O telefone toca
E eu não atendo
Que se foda
A vida é um doce
Esperando no ponto
O ônibus passa
Fico aqui, chove
Tão pouco me irrita
Tanto me consome
Leio o perfume
E penso em nadas
As vozes, muitas
Eu sou só uma
Sem mágoa
Águas paradas
Queria apenas
Conhecer alguém
Que realmente vive.
O telefone toca
E eu não atendo.

domingo, setembro 04, 2005

Reflexo na tv

Um dia em mil tons
Mapas na tela
Em noites inúteis
Eu não querendo
As malditas notícias
Da queda na bolsa
De um furacão distante
Do que ele comeu
No café da manhã
Ou desses abusos
De prepotência
Pairando, assombrosos
Em frases ingênuas
E alfinetadas
Intelectuais
Rejeição, uma bênção
Tuberculose, um mal social
Eu vivendo em sociedade
Sem querer
Três a menos nesta casa
Sorte com a qual nem conto
A falta de paz
Em conviver com o olhar
Alheio. E a inquietude
De compreender
Absolutamente tudo
Que ele escreve
Quando sente demais
Eu entendo não-rimas
Eu falo por enigmas
Eu me agarro na vida
Não sou tão feliz
Mas olho nos olhos
Sempre
E até vou além.


adopt your own virtual pet!
Clicky Web Analytics