Linhas soltas, asas rasgadas

Freedom is just chaos with better lighting.

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domingo, maio 16, 2010

Crônica de uma primeira vez

Realmente, é algo impossível de se esquecer. Caminhando pelas ruas do centro de São Paulo, eu me pergunto por que nunca antes participei dessa tal Virada Cultural. Deve ser a fobia de aglomerações. Gente é o que não falta em eventos assim.
No Anhangabaú, um grupo de malucos desfila com fantasias do filme "Guerra nas Estrelas". Malucos, eu disse? Tem alguma pessoa normal por aqui? Sigo andando, desviando de outro grupo, esse de ciclistas. Não sabem para onde vão, mas pedalam. Com tantas atrações, não será muito difícil encontrarem algo que agrade.
Logo adiante, um palco e um show. A música não é tão boa, as pessoas não parecem tão animadas, mas a chuva luminosa de papel picado é um espetáculo à parte. A cidade parece ganhar mais vida, mais pulso, com tantas luzes. Essa é a magia de São Paulo, que até para momentos mágicos tem data e hora marcadas - neste caso, das 18h do sábado, 15 de maio, até as 18h do domingo.
Tambores, máscaras chinesas, um grupo de performers dança num gramado da Praça Ramos. Mais adiante, sobe um balão de gás no qual estão pendurados dois acrobatas. As pessoas, maravilhadas, voltam seus olhos para o céu. Mas eu não tenho tempo de me maravilhar, já estou procurando por novas surpresas. Em cada esquina, algo diferente. Não é fácil manter o foco.
Continuo caminhando e acabo na Luz, a estação. A orquestra sinfônica e o coral municipal executam Carmina Burana. A plateia exulta com o final apoteótico. Tudo é muito grandioso, muito poderoso. E pela primeira vez durante as várias horas de tantos deslumbramentos, algo verdadeiramente prendeu minha atenção.
O sábado já virou domingo e meus passos me levam de volta para casa. No caminho, um guindaste segura um piano. O pianista, pendurado lá em cima, toca uma melodia que é só dele. Não olha para baixo, nem parece dar-se conta dos espectadores que o observam, abismados. Não liga para a altura, apenas desliza seus dedos pelo teclado. Sua noite virou uma coisa só entre a música e o céu. E essa é a última lembrança que levo comigo, nessa primeira de muitas Viradas que ainda virão pela frente.

terça-feira, maio 11, 2010

Dropping by

Janela

O sol se levanta
e se abre.
Não quero ir com ele,
porque o abraço
dos lençóis
me chama.
Lá fora os outros
não entendem
a minha língua.
Eu não consigo ler
pensamentos.
Se acordar fosse fácil,
a dor de cabeça
seria apenas
sintoma tardio
da ressaca.
Mas fecho a janela
e a voz do sol
se cala.


Eco

As ruas são pequenas e suspiram
Tantos olhos de crianças sonolentas
Por que este sol escolheu justo a mim?
Paralisia terra de sítio deserto
Serpentes que se enrolam em ossos
Nus. Dois braços mergulhados n'água
Salgada, morna pelos nossos pecados
Na brisa lenta de outra tarde passada
A esmo, em mim a sombra da lembrança
De um afeto que era flor, bem presa
Dentro de um já descolorido diário
E que jamais retornou minhas cartas
Ou telefonemas...

Sim, é frágil e quebra-se pronto
O som da voz nestas paisagens secas.


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