Triste punhal
Hoje perdi uma amiga, Carolina. Para mim, uma maravilhosa e quase incompreensível escritora cheia de vícios. Para você, nada melhor que a definição de "cat lover, jazz fan, flamenco dancer, addicted to poetry and cigarrettes, chronically melancholic, great cook, obsessed with psychoanalysis and detective novels, lazy in the mornings and sarcastic at nights." Então quem é que me explica o que lhe aconteceu neste domingo?
Alguém me liga e eu não quero falar com essa pessoa, nem acreditar no que ela conta. Foram tantas as falsidades, por que essa única notícia não poderia ser mentira? Só que não é. Eu fico sem palavras, fico olhando para a folha em branco, com um número de telefone meio rabiscado, me perguntando como farei para ir a um velório em uma segunda-feira em São Paulo. Perco a voz, perco o controle dos meus olhos se embaçando com algum líquido que eu preferia não ter dentro de mim. Porque representa uma tristeza que eu não associo com você.
Não deveria me importar com essas coisas mundanas. Não deveria pensar no que fazer, nem odiar as pessoas que não eram suas amigas e você sabia disso. Também não deveria estar com medo de ver você uma última vez, quando o corpo que estará lá não é mais você. Não é a pessoa que vai dividir um vinho branco e ouvir música, falar de poesia e ler meu blog. E eu não deveria me preocupar em escrever algo à sua altura nesta noite, por dois motivos óbvios... Primeiro, jamais saberia colocar você em palavras. E porque não importa onde esteja, sua lembrança permanece. Cliché, I know, but you get me.
Ficaram coisas demais aqui, sozinhas. Ficamos nós, sem você. Deixou suas plantinhas órfãs, dois ou três gatos manhosos, uma irmã gêmea destruída, um apartamento recém decorado e com poucos móveis, uma coleção de livros extraordinários, um computador cheio de idéias - boa parte delas incompletas.
Por que a depressão? Poderíamos nos perguntar, poderíamos descobrir se foi acidente ou não. Mas de que importa, realmente? Seus textos receberam um ponto final, prematuro. O que quer que nos aconteça daqui por diante, já está marcado por esse ponto.
Fiquei com um livro seu, Carol, daquela última vez que nos vimos. As coisas finais são sempre tão banais, nem parecem de verdade. A edição de "Noites sem fim" do Sandman, sobre os Eternos (nunca a Morte, o Sonho, o Desespero, o Desejo, a Destruição, o Delírio e o Destino fizeram tanto sentido...) Se eu soubesse... poderia ter feito alguma coisa? Como evitar o que já virou passado? Quem é que me responde? A pergunta faz um eco que chega a doer.
Talvez ninguém comente esse post, gata (essa palavra era tão sua), agora que você se foi. Mas, sabemos, teremos sempre a literatura para preencher nossos silêncios. Eu aqui, você aí. Cada qual com seus "blues", tentando entender. Tentando se entender. Em suas palavras, termino meu lamento e vou cuidar da dor de cabeça: "É isso, meus amores. Et bonne nuit pour vous."
Take care. Bisou. Adieu.
Alguém me liga e eu não quero falar com essa pessoa, nem acreditar no que ela conta. Foram tantas as falsidades, por que essa única notícia não poderia ser mentira? Só que não é. Eu fico sem palavras, fico olhando para a folha em branco, com um número de telefone meio rabiscado, me perguntando como farei para ir a um velório em uma segunda-feira em São Paulo. Perco a voz, perco o controle dos meus olhos se embaçando com algum líquido que eu preferia não ter dentro de mim. Porque representa uma tristeza que eu não associo com você.
Não deveria me importar com essas coisas mundanas. Não deveria pensar no que fazer, nem odiar as pessoas que não eram suas amigas e você sabia disso. Também não deveria estar com medo de ver você uma última vez, quando o corpo que estará lá não é mais você. Não é a pessoa que vai dividir um vinho branco e ouvir música, falar de poesia e ler meu blog. E eu não deveria me preocupar em escrever algo à sua altura nesta noite, por dois motivos óbvios... Primeiro, jamais saberia colocar você em palavras. E porque não importa onde esteja, sua lembrança permanece. Cliché, I know, but you get me.
Ficaram coisas demais aqui, sozinhas. Ficamos nós, sem você. Deixou suas plantinhas órfãs, dois ou três gatos manhosos, uma irmã gêmea destruída, um apartamento recém decorado e com poucos móveis, uma coleção de livros extraordinários, um computador cheio de idéias - boa parte delas incompletas.
Por que a depressão? Poderíamos nos perguntar, poderíamos descobrir se foi acidente ou não. Mas de que importa, realmente? Seus textos receberam um ponto final, prematuro. O que quer que nos aconteça daqui por diante, já está marcado por esse ponto.
Fiquei com um livro seu, Carol, daquela última vez que nos vimos. As coisas finais são sempre tão banais, nem parecem de verdade. A edição de "Noites sem fim" do Sandman, sobre os Eternos (nunca a Morte, o Sonho, o Desespero, o Desejo, a Destruição, o Delírio e o Destino fizeram tanto sentido...) Se eu soubesse... poderia ter feito alguma coisa? Como evitar o que já virou passado? Quem é que me responde? A pergunta faz um eco que chega a doer.
Talvez ninguém comente esse post, gata (essa palavra era tão sua), agora que você se foi. Mas, sabemos, teremos sempre a literatura para preencher nossos silêncios. Eu aqui, você aí. Cada qual com seus "blues", tentando entender. Tentando se entender. Em suas palavras, termino meu lamento e vou cuidar da dor de cabeça: "É isso, meus amores. Et bonne nuit pour vous."
Take care. Bisou. Adieu.