Com meus botões*
(*Contém spoilers... muitos)
Até hoje cedo eu não sabia exatamente o que havia me incomodado em Benjamin Button. Sim, o filme é perfeito, David Fincher é um gênio. Isso é fato, não importa quantos Oscars ele ganhe ou deixe de ganhar. É impossível comentar em detalhes exatamente tudo o que há de bom e impressionante nas três maravilhosas horas de quase hipnotismo que esse filme proporciona, então vou deixar de lado a fotografia belíssima e a impecável direção de arte pra comentar sobre o que realmente me tocou... e incomodou. Mas como assim? Então eu gostei ou não?
Vamos falar do roteiro. Ainda não li o conto de Fitzgerald, mas a premissa é clara: Benjamin Button é um homem que envelhece ao contrário. Eventualmente, ele acaba rejuvenescendo a ponto de se tornar um bebê... e por fim deixa de existir. Simples assim. Mas o que há de tão especial na adaptação da história desse personagem definido por aí como "bizarro"? A maneira como ele encara o tempo. Curiosamente, o roteiro coloca o protagonista em New Orleans, uma cidade que tem algo de fênix, que se levantou das cinzas e conquistou sua atemporalidade na magia de parecer capaz de existir eternamente (não importa quantos furacões passem por ela).
Mas também não vou me deter nisso. Nem nas atuações, que por si mesmas já mereciam um comentário à parte - desde o próprio Benjamin até o tragicômico velhinho atingido por sete raios, todos vivem brilhantemente seus papéis. Não. Quero falar da linguagem, do filme por trás do filme, da imagem além do olhar. Pois foi aí que eu realmente descobri o que estava errado.
"The curious case of Benjamin Button" não é um romance, embora fale sobre pessoas que se amam. Fincher costura a trama com propriedade, racionalidade, até mesmo um certo distanciamento. Ele sabe bem como se afastar da facilidade melodramática. Mas deixa tudo ali, à disposição, para ser decifrado por quem quiser prestar atenção. Sim, a morte é inevitável. Certo, isso é muito triste e as pessoas não ficam juntas para sempre, mesmo se o amor for imenso. Mas fazemos escolhas e cada um é dono de seu relógio, que infelizmente não pode ser enganado. Nem pode correr no sentido anti-horário, por mais que eu ou você tentemos trapacear com os ponteiros. Em algum momento, o relógio acaba parando de funcionar.
Incomoda ver que as coisas não terminam como deveriam, que finais "felizes" são fantasias (bonitas e confortáveis, mas pouco prováveis) e que o passar dos anos é cruel demais pro meu gosto. Mas acima de tudo, incomoda perceber como é breve meu tempo, como não tenho controle. Como desejo coisas que estão muito além da realidade. Pois é... uma verdadeira auto-análise. O que a princípio pode parecer apenas o universo fantástico de um homem diferente de todos os outros, na verdade é Fincher evitando que eu caia no abismo da irrealidade. A vida é assim e pronto.
Eu sei que me incomodei porque gosto de acreditar em grandes tolices, tenho uma tendência a alimentar sonhos impossíveis, espero por desfechos altamente incertos. E por mais que tente, dificilmente terei sabedoria pra ver as coisas tão "de fora". Agora me pergunto: quantos anos ainda precisarei perder pra realmente entender essas coisas? Não poucos.
No fundo, queria apenas ser mais como Benjamin.
Até hoje cedo eu não sabia exatamente o que havia me incomodado em Benjamin Button. Sim, o filme é perfeito, David Fincher é um gênio. Isso é fato, não importa quantos Oscars ele ganhe ou deixe de ganhar. É impossível comentar em detalhes exatamente tudo o que há de bom e impressionante nas três maravilhosas horas de quase hipnotismo que esse filme proporciona, então vou deixar de lado a fotografia belíssima e a impecável direção de arte pra comentar sobre o que realmente me tocou... e incomodou. Mas como assim? Então eu gostei ou não?
Vamos falar do roteiro. Ainda não li o conto de Fitzgerald, mas a premissa é clara: Benjamin Button é um homem que envelhece ao contrário. Eventualmente, ele acaba rejuvenescendo a ponto de se tornar um bebê... e por fim deixa de existir. Simples assim. Mas o que há de tão especial na adaptação da história desse personagem definido por aí como "bizarro"? A maneira como ele encara o tempo. Curiosamente, o roteiro coloca o protagonista em New Orleans, uma cidade que tem algo de fênix, que se levantou das cinzas e conquistou sua atemporalidade na magia de parecer capaz de existir eternamente (não importa quantos furacões passem por ela).
Mas também não vou me deter nisso. Nem nas atuações, que por si mesmas já mereciam um comentário à parte - desde o próprio Benjamin até o tragicômico velhinho atingido por sete raios, todos vivem brilhantemente seus papéis. Não. Quero falar da linguagem, do filme por trás do filme, da imagem além do olhar. Pois foi aí que eu realmente descobri o que estava errado.
"The curious case of Benjamin Button" não é um romance, embora fale sobre pessoas que se amam. Fincher costura a trama com propriedade, racionalidade, até mesmo um certo distanciamento. Ele sabe bem como se afastar da facilidade melodramática. Mas deixa tudo ali, à disposição, para ser decifrado por quem quiser prestar atenção. Sim, a morte é inevitável. Certo, isso é muito triste e as pessoas não ficam juntas para sempre, mesmo se o amor for imenso. Mas fazemos escolhas e cada um é dono de seu relógio, que infelizmente não pode ser enganado. Nem pode correr no sentido anti-horário, por mais que eu ou você tentemos trapacear com os ponteiros. Em algum momento, o relógio acaba parando de funcionar.
Incomoda ver que as coisas não terminam como deveriam, que finais "felizes" são fantasias (bonitas e confortáveis, mas pouco prováveis) e que o passar dos anos é cruel demais pro meu gosto. Mas acima de tudo, incomoda perceber como é breve meu tempo, como não tenho controle. Como desejo coisas que estão muito além da realidade. Pois é... uma verdadeira auto-análise. O que a princípio pode parecer apenas o universo fantástico de um homem diferente de todos os outros, na verdade é Fincher evitando que eu caia no abismo da irrealidade. A vida é assim e pronto.
Eu sei que me incomodei porque gosto de acreditar em grandes tolices, tenho uma tendência a alimentar sonhos impossíveis, espero por desfechos altamente incertos. E por mais que tente, dificilmente terei sabedoria pra ver as coisas tão "de fora". Agora me pergunto: quantos anos ainda precisarei perder pra realmente entender essas coisas? Não poucos.
No fundo, queria apenas ser mais como Benjamin.