Para hoje
O esmagamento das gotas
Eu não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechado e cinza, aqui contra a sacada com gotões coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um atrás do outro, que tédio. Agora aparece a gotinha no alto da esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu que a esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo e balouça, já vai cair e não cai, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que pende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidade no mármore.
Mas há as que se suicidam e logo se entregam, brotam na esquadria e de lá mesmo se jogam, parece-me ver a vibração do salto, suas perninhas desprendendo-se e o grito que as embriaga nesse nada de cair e aniquilar-se. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adeus gotas. Adeus.
(Histórias de cronópios e de famas, de Julio Cortázar)
2 Comments:
cortázar, é? hmmmm. óti,a opção, ótimo trecho.
menina, já combinei com o fabinho: sexta culinaria aki em casa, na sexta-feira, como o nome sugere ;-)
vcs vêm, né? fabinho ficou de falar com o yan, mas já prepara o terreno!!
:-)
Era uma vez uma galinha socó, que botou um ovo pra ti só!
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