Segunda-feira

Meu tio faleceu. Ele era um homem simples.
Sinto saudade de quando as coisas eram mais simples na vida. A complexidade traz sofrimento. A complexidade faz a gente duvidar da fé. Faz a gente se questionar se realmente vale a pena perder duas horas por dia dentro de um ônibus lotado, apenas para ter um trabalho honesto.
Já vi muita coisa no mundo. Vi a dignidade de um pai que não tinha dinheiro para pagar as contas, da mãe que chorava escondido. Também vi muitos sem nome, dormindo na rua, mas não era da minha conta. E velhos tão velhos, só pele e osso, sem o consolo de um abraço. Saí do país e vi quem se vendesse por um título, ou um fiapo de esperança no futuro.
Se eu tivesse coragem, seria sincera comigo mesma e admitiria a realidade. “Vamos esquecer tudo e nunca mais tocar no assunto. Assim, seu problema fica resolvido. Claramente, eu lhe pedi algo muito além das suas possibilidades.” Sempre fui de ilusões.
Às vezes me pergunto por que a alegria do mundo só pode chegar a certo ponto, mas a infelicidade não. Não há limites para as coisas ruins que atravessam nosso caminho. Sempre pode piorar. E eu aqui me esforçando para acreditar em amor, bondade, verdade, liberdade. Sim, somos todos muito livres.
Mas e a simplicidade? Essa eu vou continuar procurando.