Fogo partilhado

Dia dos Namorados. O mundo inteiro de repente parece ficar vermelho e cor-de-rosa, com coraçõezinhos desenhados. Mas você vai querer algo além disso.
Vai desejar que os homens sejam modelos de príncipes encantados, que nunca lhe deixem na mão e sempre saibam exatamente do que você precisa. Que seu namorado seja mais romântico do que é, que ele dê flores não apenas depois de uma traição, querendo ser perdoado. Ou que seja sincero, mesmo quando dói. Vai querer que o prazer seja regra, não exceção. Que ele não force um relacionamento à distância, quando ambos entendem a impossibilidade disso. Também vai esperar que ele não fuja com uma vagabunda no 25º aniversário de seu casamento, que não tente roubar de você a guarda dos filhos. Vai preferir que ele discuta, ao invés de apaziguar, quando você estiver a fim de brigar. Vai desejar que ele não apresse as coisas no namoro, falando em conhecer seus pais no interior. Ou, em caso contrário, vai rezar para que ele páre de inventar desculpas para uma simples viagem que lhe faria tão feliz. Vai pensar besteiras quando ele não telefona, e o mesmo se telefona demais. Aos quarenta anos vai querer engravidar, apesar de saber que ele não tem os mesmos planos. Vai fingir que está tudo bem se ele troca você por um jogo de futebol ou uma cerveja com os amigos. Que não se importa em ir ao cinema sozinha, que nunca sonhou em casar de branco na igreja. Você vai querer que ele faça todas as suas vontades, e se magoar pela frequência com que isso não acontece. Vai precisar de fotos, e muitas, para registrar eternamente a lembrança de um sentimento fugaz. Vai precisar de palavras, ações, declarações. Presentes, para aliviar o inferno de não conseguir mais viver sem esse outro alguém. Você vai finalmente compreender o que dizem as canções tristes, os filmes piegas e os livros de poemas, pois estará perdida para sempre.
Sim, é um fogo, e arde. Mas ainda assim, seguiremos amando. Sorrindo e chorando. Queimando por dentro.